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domingo, 14 de dezembro de 2008

A MORTE NOS ENSINA A VIVER

É lançado no Brasil, pela Editora Globo, o livro "Dançando com a morte", do médico holandês Bert Keizer. A obra descreve com realismo, inteligência e humor o dia-a-dia de uma clínica, revelando uma visão inesperada da morte. Esta que, para o senso comum, pode ser mais ou menos resumida na dura dor da perda. Mas o autor defende que a morte, na verdade, é o que antecede a morte. A morte é o morrer.

O livro, então, seria apenas a descrição do trabalho de um médico. Seria, se o Dr. Keizer fosse um médico comum. Ele o é, de fato, no dia-a-dia profissional. Mas não o é absolutamente, na sua visão da medicina – ou melhor, da impotência da medicina. Em parte, porque não trabalha num hospital, mas numa casa de repouso, instituição em que os pacientes estão para morrer. Ou porque são muito velhos, ou porque têm doenças incuráveis. Pois para além da circunstância profissional, o que informa a visão do autor é seu raro realismo, sua lucidez cortante, sua cultura literária e seu humor mordaz. Para os pacientes, é uma situação mórbida ou trágica. Para os leitores, o ponto de partida para um livro irresistível.

Trata-se, em primeiro lugar, de um livro abrangente. Nas palavras do autor “[são discutidos] a história infelizmente desprezada e ignorada da medicina, o efeito do placebo, o fracasso das pesquisas e a incrível superestimação do poder da medicina". Estes e outros temas estão entremeados às histórias de vida e de morte dos diversos personagens da narrativa. Porém, o grande humanismo do autor permitem-lhe tecer comentários sobre os mais variados assuntos sem nunca perder o vigor.

Numa casa de repouso, às vezes é o paciente que quer morrer, às vezes são seus parentes que querem aliviar seu sofrimento. “Seu”, ou seja, do paciente, ou “seu”, isto é, deles parentes? A descrição dos diálogos e procedimentos é de um realismo que, se jamais é cru, até por força do estilo literário, é sempre agudo. E invariavelmente surpreendente, no modo como enfoca as minúcias instrumentais e alterna para as questões existenciais. Não há nada de horripilante, nada de semelhante a um filme de terror, mas muito de uma banalidade, esta sim, atroz. A verdadeira vítima deste livro é o senso comum.

Título: Dançando com a Morte: Sobre o viver e o morrer (412 págs.) - 2008 - Autor: Bert Keizer - Editora Globo

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