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terça-feira, 28 de abril de 2009

NÃO PODERIA CAUSAR A MORTE DE MINHA FILHA

Em março de 2009, depois de muita polêmica, a italiana Eluana Englaro, 38, morreu após viver por cerca de 17 anos em estado vegetativo. A decisão de suspender a alimentação foi tomada pelo pai, Beppino Englaro, dividindo opiniões entre religiosos e leigos. A milhares de quilômetros da Itália, uma família de Fortaleza trava, há 14 anos, uma luta diária no sentido contrário: o de manter a filha viva. Flávia Avelino, 34, sofreu uma parada cardiorrespiratória durante uma cirurgia, em setembro de 1994, comprometendo parte do cérebro por causa da falta de oxigenação. Desde então, ela vive em estado vegetativo, sob os cuidados dos pais. A rotina é exaustiva. Ao contrário de outros pacientes, Flávia não se alimenta por sonda, mas sim, por uma seringa injetada diretamente em sua boca. A medida foi sugestão da mãe, a dona-de-casa Márcia, preocupada com o desconforto causado pelos tubos. Frango, frutas e verduras são o cardápio. Todos batidos, triturados. 

A alimentação tem um horário certo, assim como o banho diário e a escovação. O pai e a mãe se revezam na atenção à filha com mais duas empregadas. O zelo vai além da subsistência. Dá trabalho, mas Flávia é levada ao dentista regularmente. “É um sacrifício abrir a boca e ficar segurando aquele caninho. A consulta leva a manhã toda e temos de ir em dois carros: um para ela e outro para a cadeira de rodas”, diz o pai, o engenheiro Arquimedes.

Visitar a residência da família Avelino, no bairro Água Fria, é como entrar em um túnel do tempo, com o ponteiro fixado há exatos 14 anos. “Todo o dinheiro que ganho é voltado para as coisas da Flávia, para pagar as empregadas e os remédios. São cerca de R$ 2,5 mil por mês. Os móveis têm a mesma idade de quando ela entrou em coma. Até as roupas que visto são daquela época. Depois do que ocorreu, a nossa rotina é a Flávia. Não temos Carnaval, não temos festa de fim de ano.”

Os olhos de Arquimedes e Márcia brilham quando eles se lembram de Flávia. Tudo nela transbordava vida: o jeito expansivo, o sorriso largo, os planos para o futuro, o grande número de amigos. A jovem cursava o segundo ano de Engenharia Elétrica quando se submeteu a uma cirurgia para corrigir o septo nasal e entrou em coma por seis meses. “Ela estava com medo”, diz a mãe. Uma ação judicial foi movida contra o hospital que realizou o procedimento. O processo corre na Justiça.

Arquimedes busca um sentido. As células-tronco surgem como uma possibilidade, mas distante. Ele reprova a atitude tomada no caso de Eluana. “Para eu mesmo provocar a morte dela, não suportaria. Iria enlouquecer só de pensar em ser o autor do assassinato da minha própria filha”. A situação de Flávia fez o engenheiro se aprofundar na doutrina do espiritismo. “Tenho esperança, fé. É a minha filha. Ninguém nesse mundo pode amar mais um filho do que eu amo a Flávia”, diz.

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