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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

A MOEDA

Quando era criança, certo dia, estando na loja de meu pai, fui interpelado por um mendigo que pedia esmola. Notando os trajes andrajosos do homem, mais que depressa corri à gaveta do balcão e retirei uma moeda, que fui entregar, muito alegremente, ao pedinte.

Meu pai assistiu a tudo, porém nada me disse, continuando, calmamente, a atender a sua freguesia. Não muito tempo se passou e uma pobre mulher apareceu, fazendo a mesma solicitação. Não hesitei e corri á gaveta, porém antes que a abrisse meu pai embargou o gesto. E disse muito naturalmente:

- Onde está o cofre onde você guarda suas moedinhas?
- Aqui mesmo, na gaveta de sua escrivaninha. Então, filho, vá buscá-lo.

Trouxe meu cofrinho e papai pediu que o abrisse. Obedeci.
- Agora, filho, escolha uma moeda igual áquela que ia dar...
Escolhi.
- Agora entregue-a à senhora. Fiz o que me mandara, muito surpreso.

Quando a mulher se afastou, papai me explicou:

- Filho, o verdadeiro óbulo, o que agrada a Deus é somente aquele que provém do que é verdadeiramente nosso. Você agiu certo da primeira vez, só que não deu o que era seu. É dando que recebemos, mas só recebemos da Misericórdia Divina quando damos o que temos. Compreendeu?

Sim, compreendera. Ele arrematou dizendo:

- Você já ouviu as pessoas comentando façanhas alheias e comentando também que a cortesia foi feita com o chapéu alheio? É isso. E eu lhe peço que só use o seu chapéu, e tudo estará certo. Nunca mais esqueci o episódio, pois foi assim que aprendi o verdadeiro sentido do ato de dar. A lição permaneceu em mim por toda a vida e tem me ajudado a realizar uma caridade mais autêntica e mais coerente.

Por Wallace Rodrigues ("Para o resto da vida...
Contos que tocam o coração" -
Casa Editora O Clarim, 2001. p.130- 131.

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